segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Folhas de Rosa


Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo ...

E falo-lhes d'amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente ...

Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga,
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m'embriaga

O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que reflectia outrora tantos risos,
E agora reflecte apenas pranto,

E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado...

Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mais fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...


Florbela Espanca

Sentidos


O meio termo já não me satisfaz.
Nem pessoas máximas vazias
Nem as ínfimas cheias de mais.
Se por isso me sentencias
Se não me compreendes mais
Digo-te novamente:
É a essência que busco!
Um coração cheio de gente
E não gente cheia de razão.
Quero a carne o osso, a alma
Quero tudo intensamente.
Quero dessa louca vida calma
Desde o fruto
Até a semente!


Carolina Salcides

Sem ti...


Na solidão da noite, te procuro
Dentro da luz do meu pensamento
Iluminado pela saudade, eu tento
Evitar a lágrima no escuro!

A sinto deslizar, num amor puro
Trazendo o sabor do contentamento
Mas a meus lábios, traz o lamento
Da ausência que chora, amor seguro!

E falo à lágrima, que não sente
O sentimento da dor, que saía
Da minha alma tão claramente...

Que, por não ter a tua companhia
A lágrima vai sair constantemente
Até que venha aquele esperado dia!


Loucopoeta

Flores


Teci estas flores...
Com minha ternura,
com minha doçura,
com sonhos gestados
em noites de prata.
Ao som das folhagens,
das mansas aragens...
Teci com orvalho,
com gotas de sangue,
co'a luz do meu ventre...
Com alma plangente...
O melhor de mim.
E num ramalhete,
meu corpo entreguei-te,
banhado nos cheiros
do branco jasmim.
Teci estas flores...
As queres, assim?


- Patricia Neme -

JARDINEIRO


Olha menino, que lindo!
Ganhei um jardim
Não um jardim qualquer
Um jardim de versos
Coloridos e perfumados
Ornado com delicadas rimas
E regado de gentis sutilezas...

Olha menino, que lindo!
Estrelas faceiras e arteiras
Fazendo cócegas nos sonhos
Enchendo olhos de sorrisos
Cegando infelicidades...

Olha menino, que lindo!
Beijos colhidos agora
Metricamente embrulhados
Em lágrimas de saudades
À espera dos lábios de mel
Onde docemente morrerão...

Olha menino, que lindo!
Nuvens vestidas de asas
Debruçadas sobre o arco-íris
Voando esperanças coloridas
Tingindo o cinza de poesia...

Olha menino, que lindo!
A lua caindo feito pingente
No colo da dama-da-noite
Seduzindo a madrugada
Molhada de tanto sereno

Viste menino, que lindo?
Esse jardim mora em mim
Queres ser meu jardineiro?

Milene Sarquissiano

sábado, 29 de agosto de 2009

Entre o Espaço e o Tempo


nas palavras que escrevo
retirando de mim
a essencialidade do nada

Volto ao meu limite
num indisfarçável temos
vendo que nada sou
e o que perdi
é acrescentado em ti

Sou fruto do Universo
enviada em cores
nas gotas de orvalho
exposta ao delírio do destino

Aporto em ilhas de sonhos,
nos lampejos da coragem
indo além de todos meus passos,
encontrando sentido nos desejos
e na realidade,
perco minhas máscaras


Conceição Bentes

"Bailado de uma saudade..."


E quando um olhar
entristecido
Confrontou-se
Com a lua,
Ela não soube o
Que fazer...
Somente encheu-se
De brilho e em
Silêncio pôs-se a
Admirar a saudade
Vestida de gotas
Cintilantes,
Bailando naquele
Olhar...

(Cida Luz)

Trago-te flores!


...E o vento sopra a flor,
não há espaços vazios,
não há espaços em dor,

é forte o calor que arde,
não há sombra no caminho,
é forte o calor da tarde,

mas vejo em cada flor,
alguns sorrisos vadios,
são sorrisos de amor,

palpita-me o coração,
já não caminho sozinho,
tenho flores em minhas mãos.

Santaroza

No soar das sete


E quando é sete do sétimo
O badalar sonoro de uma nota só
Vem lembrar de um ranger
Num vibro que desce da matriz
Infiltrando no silencio, nos capins, e afins,
Feito o grito de um anjo
Ecoando, ecoando até mim...

E na sétima do sétimo
É a hora de orar,
De pedir, agradecer, perdoar...
Com as palmas coladas a aquecer a fé
Não tardando agradecido,
Os sorrisos, que sorri e que fiz e recebi.

Ah! Senão soa o sino
As sete do sétimo e me faz lembrar
Que depois de sorrir, preciso pensar,
Refletir, meditar...
- eu só, um instante só, neste mundo?
Não! Não dá.
Seria um verde sem folhas,
Nem frutos e nem flores...


...........” Catarino Salvador “.

'ROSEIRA BRAVA'


Há nos teus olhos de ouro um tal fulgor
E no teu riso tanta claridade,
Que o lembrar-me de ti é ter saudade
Duma roseira brava toda em flor.

Tuas mãos foram feitas para a dor,
Para os gestos de doçura e piedade;
E os teus beijos de sonho e de ansiedade
São como a alma a arder do próprio amor!

Nasci envolta em trajes de mendiga;
E, ao dares-me o teu amor de maravilha,
Deste-me o manto de ouro de rainha!

Tua irmã... teu amor... e tua amiga...
E também - toda em flor - a tua filha,
Minha roseira brava que é só minha!...


Florbela Espanca

Mar e Lua


Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar
E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepio
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Rolando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar

Chico Buarque

Arroubos


Tu não viste ainda o chegar
das horas, foram passos
que dei, na esperança
que tu os ouvistes, tua
madrugada era triste... lá se
foram arroubos da minha
juventude, se foram meus
mais tenros beijos que dar-te
eu pude... não fora os anos
que passaram por ti, o tempo
deixou em ti parado... enciumado
e distante no tempo esperado.

Arruda Bonfáh

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

POEMETO


sobre o rio da vida
essa ponte de amor
tu na margem de lá
eu à margem de cá
segurando esta flor
desfolhada na mão
do possível morrer
pelo ser ou não ser
como rio entre nós
uma dor de paixão

Afonso Estebanez

Geometria dos ventos


Eis que temos aqui a Poesia,
a grande Poesia.
Que não oferece signos
nem linguagem específica, não respeita
sequer os limites do idioma. Ela flui, como um rio.
como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem se sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada -
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se arranca da terra
já dentro da geometria impecável
da sua lapidação.
Onde se conta uma história,
onde se vive um delírio; onde a condição humana exacerba,
até à fronteira da loucura,
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao
mesmo tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia.

Rachel de Queiroz

Eis-me aqui!


Eis-me aqui
na luz dos olhares que se cruzam,
entre a neblina que se desfaz
em meio a tantos ou uma, das palavras,
no silêncio tão breve que se refaz

Volto no limiar exato do inacabado,
deflagrando o desamparo da memória
na construção palpável das palavras
habitando constelações
antes nunca navegadas

Não sou mais que isto:
sonhos inventados,
finalidade e drama sem enredo,
herança sem segredo

Conceição Bentes

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Assim vou eu...


Dobrando minhas esquinas,
Aguçando meus sentidos.
Escrevendo meus poemas,
Criando meus laços,
Apertando meus nós,
Alimentando minhas fantasias,
Aperfeiçoando meus traços,
Aquietando minh’alma,
Curando minhas feridas,
Desviando das pedras do meu caminho,
Admitindo meus erros,
Ateando minhas velas,
Traçando minhas retas,
Vasculhando minhas gavetas,
Ostentando meus amores,
Engrandecendo meus sentimentos,
Apurando meus gostos,
Amadurecendo minha vida,
Eu vou...

Paty Padilha

OITAVA MARAVILHA


Certo ou errado eu te amo
Te amo como o trovão
Que estronda nos céus
Te amo como o sol ama a lua
Te amo até distante
Como quando o sol brilha
E a lua se esconde

Tenho como testemunhas deste amor
As estrelas do universo
E como cúmplice tenho
O vento que sopra sob o luar
Tenho como aliados deste amor
As ondas rebeldes ou a calmaria dos mares

Te amo como um eclipse lunar
Que no auge do amor,
A lua e o sol se abraçam
Resultando a nona maravilha do mundo
Pois a oitava maravilha
É este amor imenso que sinto por ti!


LÚCIA BIAZETTO

SAUDADE...


Do tempo que eu não tinha medo...
Das minhas noites tranqüilas,
Do dia chuvoso e nublado...
Ah... saudade! Por que me aniquilas?!...

Saudade
Da paz que nem eu sabia que tinha...
Do jardim colorido e molhado
Da rosa que era só minha,
Do beijo ingênuo e roubado!...

Saudade
Do sorriso alegre no rosto,
Dos olhos que ainda brilhavam!
Do cheiro, do toque e do gosto,
Dos lábios que se encontravam!...

Saudade
Das tuas mãos nas minhas,
Do abraço quente e apertado,
Do sino e das andorinhas,
Do amor eterno jurado!...

Ginna Gaiotti

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Pétalas!!!


Poesia é a flor da alma.
Alguém já disse isso?
Se não disse, digo eu.

Cada poema é uma pétala!
Seu perfume se espalha
quando alguém o lê.

Quero oferecer cravos, rosas
violetas, margaridas e jasmins;
porque sempre fica um pouco de perfume
nas mãos de quem oferece flores.

Obrigada, muito obrigada
a quem me visitar.
Pode comentar, pode recriar,
pode plantar a sua flor aqui.

Sinta-se à vontade
Vamos aumentar esse jardim...


Janete do Carmo

Amor o néctar do existir


Meu coração cantor
Voa como um beija-flor.
Para em alta rotação.
Faz do inverno verão.

Faz melodia açucarada
E delícia embebida.
Majestoso produz sensação.
E uma suave emoção.

Suporta as agruras
Desafios e novas aventuras.
É um coração companheiro.
O amor o envolve ligeiro.

A amizade é o seu elixir
O néctar do existir.
A pureza que veio da natureza.
Satisfaz o espírito com essa beleza.

Interfere no amor
Na alma do cantor.
Cala a voz e ressurgem.
Em coro e imagem.

Passeia dentro do corpo.
Por algum tempo,
Volta com estilo brilha o amor.
Como as penas do beija-flor.

O néctar no beijo
Belo e singelo jeito.
Ternura no olhar.
E encanto para amar.


Hortência Lopes

Eu e o vento...


Irei de mãos dadas com
O vento procurar seu
Cheiro...Sentirei o que emana da
Sua pele, reconhecerei
Sua essência...

Brincarei com os seus
Cabelos, beijarei sua boca
Em um breve roçar de ternura...

A brisa do meu coração
Irá soprar doce canção
Para acalentar sua tristeza.
E o vendaval dos
Meus desejos
Expulsará suas solidões...

Dançarei em volta do seu
Corpo e levarei comigo
Toda a sua incerteza se te amo...
E meu amor brincará em seu
Sorriso até o adormecer da
Saudade...


(© Cida Luz)

MEMÓRIA


Amar o perdido
deixa confundido este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do não.
As coisas tangíveis tornaram-se
insensíveis a palma da mão.
Mas as coisas findas
muito mais que lindas
essas ficarão.


Carlos Drummond de Andrade

INVENÇÃO DOS DIAS


"Todos os dias
me invento criatura
em cada traço
palavra verso reverso.

Pinto poemas no vento
me embriago de algas
na espiral de cada maré.

Os barcos passam ao longe
riscando de saudades
gaivotas no horizionte.

Todos os dias me invento
estátua de sal e de Sol
passam lentos os dias lentos
e as noites madrugam despertas
numa cobardia desistente.

Todos os dias me invento
caricaturadamente alada,
Todos os dias me sento
na tua porta fechada."


(luizacaetano)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Mar!


No vasto silencio de minha alma,
O fogo e o gelo campeiam nus,
Contrastes de meu estado de espírito.

Não é derrota ou fragilidade minha,
Apenas cansaço ante á mesmo batalha,
Que se repete indefinidamente aqui.

Então, hoje, dou-me ao direito,
Derradeiro, quem sabe, de ser feliz,
Mesmo que o mundo diga ser insano.

Os paradoxos fazem parte de mim,
O contraste é minha melhor defesa,
E sendo camaleão, meu melhor ataque.

Portanto, não me venha com pedras,
Hoje e não mais, elas me atingirão,
Eu consegui chagar ao mar.

Santaroza

FLORES


Devolvo-te as flores
que, escondido
enquanto a noite
enchia-se de estrelas
e tu de sonhos,
roubei de ti
para me perfumar,
Jardim Perfumado
que és.

E agora,
já perfumado de deusas,
devolvo-as
com o néctar
que emprestei
das abelhas rainhas
e com os beijos meus,
cuja fórmula doce
aprendi com o beija-flor.

Devolvo-as sem mais nada.

Apenas
espero que o silêncio
acomode-se entre os vácuos das palavras
e os sentidos as transparentem.


©Oswaldo Antonio Begiato.

Ar


Perfumes me recordam flores com
Aromas crocantes aos sabores agridoces
Hora do Ângelus que me lembra Shubert,
No primeiro abandono no velho internato.
Percebo que as abelhas em coro afinado,
Festejam a partida do sol na vertical,
Quando de lado posso estar deitado.
Relva, ou grama, entre trigais e girassóis,
Percebo em mim pinturas novas de Dali.
Traços de completo equilíbrio se fixam
Entre meu corpo e minha semente.
Preferências que até hoje não discuto.
Mas sinto sufoco de tantas perguntas.
E em grandes saltos entre um verso e outro,
Procuro ar na solidão que me recolhe.

Jaak Bosmans

domingo, 23 de agosto de 2009

Livros e flores


Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

Machado de Assis

POEMA-ORAÇÃO


A todos os ventos
eu peço coragem.
A cada estrela e estrada
Ao mar que não morre nunca
eu peço coragem.
E ao sol e à lua
E a todo o firmamento.
A cada pássaro
A cada pedra
A cada bicho da terra e do ar
Peço coragem a tudo o que vive agora
E ainda viverá
Coragem para cavalgar os dias
Navegar nas horas
E a cada minuto e segundo Sonhar.

(Roseana Murray)

sábado, 22 de agosto de 2009

SEM MOTIVO


Eu faço versos
porque o verso
é esse momento
em que o amor
dentro de mim
me torna vivo,
para que assim
eu morra só do
contentamento
de ser feliz sem
precisar de ter
motivo...


A. Estebanez
(Homenagem a
Cecília Meireles)

AMO-TE...


"AMO-TE...como a planta que não floriu
e tem dentro de si,
escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor,
vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como,
nem quando, nem onde,
amo-te diretamente
sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar
de outra maneira

a não ser deste modo
em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão
no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos
se fecham com meu sono."


(Pablo Neruda)

A CONQUISTA


Venho oferecer-lhe uma bela flor,
como prova sincera do meu amor
É uma rosa vermelha,
insinuante, e que se assemelha,
a este raro e inebriante momento,
onde exponho o meu sentimento,
mesmo que não haja luar,
pois é minha intenção
conquistar o seu coração.
Oh minha linda e sensual mulher,
apenas você poderá dizer se quer ,
aceitar este meu pedido,
o qual faço, de um modo atrevido,
em meio a esta penumbra.
Sinto em você um doce encanto
recostada ai nesta amurada,
com seu branco vestido,
e fisionomia de apaixonada .
Aceite, por favor este regalo,
que dou-lhe sem nada exigir,
a não ser sua sinceridade.
Prometo que a amarei de verdade
se comigo você quiser seguir...

Marco Orsi

Protejo-me...


Sou serva fiél dos
meus sentimentos...
Vibro com a alegria que
meu sorriso desenha!
Mas, sempre previno-me
brincando de felicidade,
quando vejo chegar
o sofrimento e antes
que a lágrima venha...

Acompanho maravilhada
quando m'alma flutua!
Mas, calço com cuidado
meus pés, antes deles
pisarem o solo dorido
da minha realidade nua.

Permito-me até sonhar!
Mas, mantenho-me
alerta a cada despertar.

Assisto extasiada quando
meu coração se apaixona...
Mas, trago sempre comigo
o bálsamo que ameniza a dor;
caso ele saia ferido dessa
batalha louca e alucinante
que se chama Amor!...

(Ginna Gaiotti®)

O POUCO QUE EU SEI


Sei dos caminhos que nos levam à loucura
e das trilhas, abismos, armadilhas.

Sei do sangue coagulado sobre a ferida
e da dor na cicatriz quando mexida.

Sei do inverno no silêncio do meu quarto,
e das lágrimas, quase sempre não disfarço!

Sei das ruas, vielas, esquinas desertas,
insônia insistente, madrugadas incertas.

Sei do amigo que se recusa ao abraço,
chuva ácida poluindo o riacho.

Sei dos esboços, dos rascunhos, dos sonhos,
projetos engavetados, lado esquerdo, tristonhos.

Sei do livro de contos inacabado,
faz tempo não pego, tenho medo do estrago!

Sei que o tempo tece teias estranhas,
corpo cansado, presa indefesa da aranha!

Sei que amanhã vou acordar setembro,
se me lembro: primavera, flores, temperatura amena!

Sei que no final deste caminho, existe um outro.
Sei da pedra, do limo, das raízes e da solidão.


NALDOVELHO

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Violeta


Sempre teu lábio severo
Me chama de borboleta!
- Se eu deixo as rosas do prado
É só por ti - violeta!

Tu és formosa e modesta,
As outras são tão vaidosas!
Embora vivas na sombra
Amo-te mais do que às rosas.

A borboleta travessa
Vive de sol e de flores.
- Eu quero o sol de teus olhos,
O néctar dos teus amores!

Cativo de teu perfume
Não mais serei borboleta;
- Deixa eu dormir no teu seio,
Dá-me o teu mel - violeta


Casimiro de Abreu

Fascinação


Canta-lhe o vento as áreas que conhece,
E nenhuma perturba aquele olhar.
Nenhuma o transfigura ou adormece
E o tira de sentir e de fitar.

Terra de consciência iluminada,
Limpa na sua luz pensada e fria,
A celeste canção enluarada
Nenhuma paz humana lhe daria.

Não, porque o vento só conduz aladas
Forças que oscilam a raiz;
E aquele olhar quer descobrir paradas
Seivas da vida que a razão lhe diz.


Miguel Torga

ÉS LIVRE...


És livre na Luz do Sol
e livre ante a Estrela da noite
E és livre quando não há Sol
nem Lua ou Estrelas
Inclusive, és livre
quando fechas os olhos
a tudo que existe
Porém, és escravo
de quem amas
pelo fato mesmo de amá-lo
E és escravo
de quem te ama
pelo fato mesmo
de deixar-te amar

(Khalil Gibran)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O Perfumador de Flores


Eis minha vida
que ninguém conhece;
minha eterna lida
suave parecendo prece...
Não tenho nome;
nem tenho cor;
não passo fome;
vivo de flor...
Sou um designado:
o Perfumador de Flores;
vou nos jardins, vasos,
buquês de amores...
Porém, camélias,
dálias e margaridas,
preferem ser sérias,
um tanto contidas...
Transfiro, sendo assim,
o perfume que delas era,
para a rosa e o jasmim
fazerem primavera...
Ao sentires fragrância
numa flor ou no ar,
saiba que minha ânsia
vive por perfumar...

(Heinze)

PAGINA VIRADA:


Manhã de chuva, nuvens densas,
Páramo, cinéreo, nostalgia,
O canto do pássaro aqui distante,
Anunciando um novo dia,

Folhas caídas, chão espesso,
Vento da noite de verão,
Árvores nuas, beleza não há,
Procuro respostas, sem encontrar,

Saudade, sentimento e dor,
Invade o peito sem piedade,
Alastra, queima e sufoca,
É brasa viva, crueldade,

Permeia os raios, a terra esquenta,
Folhas molhadas a secar,
Brisa suave das montanhas,
Acalenta minh’alma, ponho a sonhar,

Sonho de uma noite de verão,
Olhando as ondas do mar,
Noite que não volta mais,
Só me resta sonhar,

Página de uma vida,
Alegria, tristeza e ilusão,
Hoje, virada e esquecida,
Diário do meu coração.


Poeta Mineiro

CARTA DE SAUDADE


Entrego-me tanto
E com tanta força ao irreal
Que quando tenho um “mal súbito“
de realidade...
(podem chamar de saudade...)
Amarga-me a boca de imediato
Respiro devagar...
Tenho um medo enorme
que alguém descubra
algo que nem eu quero saber...
E se eu não for imortal?
E se você não me ama?
E muito pior...
se eu não tenho amor por você?
Deixa eu fechar os olhos um pouco...
Deixa tudo quieto um pouco...
Já tive algumas perdas antes...
São doloridas...
Mas deixa eu sentir essa dor com a mesma
urgência e volume que deixo tudo
Acumular-se em mim...
Deixa...
Daqui a pouco tudo isso passa...
E eu começo a enxergar tudo
em tons de lilás e azul
que não desbotam nunca...

Lupi

Viver a vida


A vida quando se propõe a vive-la
Não pode dela ter medo
Nem deixar que passe apenas os dias
Como folhas secas ao vento
Perdidas em algum lugar no tempo
Viver sem nada construir
E nem temer pelo que vai sofrer.

De cada momento se faz uma história
Que pode ou não concretizar
Que apenas pode ficar na memória
Mas que valeu a pena sonhar
Pois mesmo em sonho existiu.

Um dia certamente chegará
Que você para trás olhará e verá
Que, o que um dia lhe fez chorar
Foi um belo momento vivido
E que valeu a pena ter sentido.

Ataíde Lemos

CAMPO DE MEDITAÇÃO


As estradas que sempre iam,
continuam indo, a despeito de mim
que por hora estou voltando...

Mas quando não houver
mais estradas para quem vai,
suave será a carona dos riachos
que são estradas feitas de lágrimas
de saudade dos amores viajados.

Continuarão, como os dias e as noites,
na direção do reino do nunca mais...
E como as rosas num leito de orvalho,
é possível que eu me reencontre comigo
em qualquer curva do crepúsculo
para o vasto espanto das manhãs
que terei deixado para trás...

E não posso evitar que seja assim:
as estradas levando a memória
do quanto eu ando de rosas
nas veredas do meu jardim...

Afonso Estebanez

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Flores


Eu te ofereço flores
Como prova de amizade
Flores de todas as cores
Com cheiro de felicidade
Te ofereço flores brancas
Pra mostrar que trago paz
Rosas, azuis e amarelas
Pois o carinho é demais
Ofereço flores vermelhas
Que simbolizam a paixão
Que falam do amor imenso
Que tenho no coração
Flores grandes e pequenas
Do campo, rosa,
margarida e jasmim...
Todas lindas e perfumadas
Pra que não esqueças de mim!

Denise Pires

PARTE DE MIM


Acho-me estranha
Gosto da solidão
Guardo segredos do coração
Gosto do silêncio
Da noite
Das canções mais tristes
Das chuvas mais fortes
Temo a morte!
Sou fascinada pelas flores
Resistente a dores
Porém frágil aos amores
Tenho medos que desconheço
E outros que até mereço
Sou avessa ao espelho
Não uso vermelho
Gosto das comidas picantes
Prefiro as bebidas quentes
Temo as alturas
As pessoas
Amo a bravura do mar
Tenho olhos tristes
A razão dentro de mim
Fui buscar
Não encontrei
Você não estava mais lá.

VALQUÍRIA CORDEIRO

Voz Que Se Cala


Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.

Amo a hera que entende a voz do muro
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.

Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é Infinito e pequenino!

Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino!...

(Florbela Espanca)

INVENÇÕES


Invento luares de agosto
e auroras boreais
invento as noites mais frias
invento as noites mais quentes
invento crisântemos transparentes
guirlandas de silêncios minerais
invento algas cristalinas
cavernas de cristais
invento o que só com amor
se pode inventar
o que já foi dito mil vezes
e que sempre se dirá

Roseana Murray

CIDADE


Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas

Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
As ondas brancas e às florestas verdes.


Sophia de mello Breyner Andresen

SOB OS TEUS PÉS


Tivesse eu as roupas bordadas do paraíso
tecidas com luz dourada e prateada
o azul e o escuro e os negros panos da noite
e a luz e as metades-luzes.
Eu espalharia essas roupas sob os teus pés.

Mas, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Eu tenho espalhado os meus sonhos sob os teus pés.
Por isso, pise suavemente;
afinal, você está andando sobre os meus sonhos.

Willian Butler Yeats