segunda-feira, 3 de agosto de 2009

ROSAS DE SAROM



Toma posse dos frutos do teu amor
ainda na tenra idade, como quem colhe
as rosas que primeiro desabrocharam
na orla do teu jardim...

Toma posse dos frutos da esperança
como o fazem os jardineiros de Sarom
que aguardam a floração das rosas
entre as sarças do Hebrom...

Toma posse dos frutos de teus sonhos
ainda que estejam verdes, como as aves
retomam entre os ciprestes do deserto
o seu ninho de esmeraldas...

Toma posse dos frutos de teu perdão
antes que seja tarde, como os pássaros
que reconstroem seu último refúgio
entre as pedras atiradas...

Toma posse de tuas ocasiões perdidas
mesmo que nunca reencontradas
como o fazem os lírios dos campos
que não precisam de nada...

Toma posse de teus ingênuos devaneios
como as rosas de sarom o resplendor
e dos botões-de-ouro de teus seios
nas dunas do teu formoso amor!

Afonso Estebanez

CANÇÃO



No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.

Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto

Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo que existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.

E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.


Cecília Meireles

Assim nasce a poesia


Coração pulsante,
tomado de emoção
pela explosão
de energia,
que de fora vem,
pelo embalo da esperança
que manda lembranças
ao outro coração.

Liberta-se a alma
e fragmenta-se
em milhares de
pontos de luz.
Viaja nas asas do vento,
se faz viajante do tempo.

Movido
pela força do amor
por onde vai,
por onde passa,
tudo transpassa,
tudo transforma
em ouro ou em flor.

Assim nasce a poesia
é o embrião fecundado
pela força da união
da alma e do coração
pela energia do amor.


Mauricio Chila Freyesleben

As deusas adormecem nas rosas.



No céu um bordado de estrelas
como se fossem cabelos de deusas
Voando no véu
de luz
Que brilha
E estica
E vai e volta
Fazendo
Cambalhotas
No vento
Que encaracola
As madeixas
Da deusa aurora...
É manhã...
As deusas adormecem
Nas rosas.

(Sirlei L. Passolongo)

PRESENTE



te trouxe de longe,
estrelas aromadas,
um pássaro cantante,
de plumagem de arco-íris,
rosas azuis, beijos recentes.
ramalhete de versos lirícos,
maquiagem chinesa,
para avivar seu semblante.
o perfume do sândalo,
acordes angelicais,
carinho de sobremesa;
flautas transversais.
uma revoada de peixes
ornamentais.
uma enchente de amor,
intenso, autêntico;
sem medida, convicto,
para agrada sua noite,
vesti a lua de linda,
minha língua como açoite,
minha presença ainda.
te quero como habitat,
pousar em seu coração,
tê-lo como morada;
paixão
e
namorada!...

gustavo drummond

balaios de um certo beija-flor



um balaio de beijos doces assim
é somente sendo os da tua saia
rendada em esmeraldas, marfins
que sejas perfeita quando balaias
que me prendas no balaiar tulpim

em flores aquecidas pelas praias
cujas ondas silhuetam meu jardim
já totalmente vivo nas encantadas
minha donzela, eu, o teu curumim

me escondendo embaixo do balaio
de beijos que a morena reservou e
que meu peito assim entusiasmado

pelas curvas do nosso louco rodado
quando o teu seio por amor balaiou e
ele me fisgou pelo carinho balaiado.


sergio, beija-flor-poeta

Saudade



Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.

A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira


Patativa do Assaré