segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Folhas de Rosa


Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo ...

E falo-lhes d'amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente ...

Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga,
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m'embriaga

O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que reflectia outrora tantos risos,
E agora reflecte apenas pranto,

E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado...

Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mais fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...


Florbela Espanca

Sentidos


O meio termo já não me satisfaz.
Nem pessoas máximas vazias
Nem as ínfimas cheias de mais.
Se por isso me sentencias
Se não me compreendes mais
Digo-te novamente:
É a essência que busco!
Um coração cheio de gente
E não gente cheia de razão.
Quero a carne o osso, a alma
Quero tudo intensamente.
Quero dessa louca vida calma
Desde o fruto
Até a semente!


Carolina Salcides

Sem ti...


Na solidão da noite, te procuro
Dentro da luz do meu pensamento
Iluminado pela saudade, eu tento
Evitar a lágrima no escuro!

A sinto deslizar, num amor puro
Trazendo o sabor do contentamento
Mas a meus lábios, traz o lamento
Da ausência que chora, amor seguro!

E falo à lágrima, que não sente
O sentimento da dor, que saía
Da minha alma tão claramente...

Que, por não ter a tua companhia
A lágrima vai sair constantemente
Até que venha aquele esperado dia!


Loucopoeta

Flores


Teci estas flores...
Com minha ternura,
com minha doçura,
com sonhos gestados
em noites de prata.
Ao som das folhagens,
das mansas aragens...
Teci com orvalho,
com gotas de sangue,
co'a luz do meu ventre...
Com alma plangente...
O melhor de mim.
E num ramalhete,
meu corpo entreguei-te,
banhado nos cheiros
do branco jasmim.
Teci estas flores...
As queres, assim?


- Patricia Neme -

JARDINEIRO


Olha menino, que lindo!
Ganhei um jardim
Não um jardim qualquer
Um jardim de versos
Coloridos e perfumados
Ornado com delicadas rimas
E regado de gentis sutilezas...

Olha menino, que lindo!
Estrelas faceiras e arteiras
Fazendo cócegas nos sonhos
Enchendo olhos de sorrisos
Cegando infelicidades...

Olha menino, que lindo!
Beijos colhidos agora
Metricamente embrulhados
Em lágrimas de saudades
À espera dos lábios de mel
Onde docemente morrerão...

Olha menino, que lindo!
Nuvens vestidas de asas
Debruçadas sobre o arco-íris
Voando esperanças coloridas
Tingindo o cinza de poesia...

Olha menino, que lindo!
A lua caindo feito pingente
No colo da dama-da-noite
Seduzindo a madrugada
Molhada de tanto sereno

Viste menino, que lindo?
Esse jardim mora em mim
Queres ser meu jardineiro?

Milene Sarquissiano