segunda-feira, 14 de setembro de 2009

DESCOMPASSO


Tem dias que as horas passam
num tempo diferente do meu.
Às vezes escorrem tão lentas,
às vezes apressadas demais!

Tempo de descompasso,
de se caminhar aos pedaços,
vez por outra um tropeço,
e a menor fração do momento
é nada mais que um estilhaço
e quando percebo volto ao começo,
às vezes de forma bem lenta,
quase sempre apressado demais.

E o tempo vira um amontoado de escombros,
onde o poeta se inquieta,
e o verso se contorce no assombro
da pressa ou impaciência,
de não ter como brotar.

Tem dias que as horas passam
num tempo diferente do meu
e eu nem sei como evitar.


NALDOVELHO

QUEM INVENTOU O AMOR ?


Ponha suas mãos sobre as minhas...
Deixa eu admirar
essas formas suaves
Que seus dedos tem...
Deixa eu imaginar
Que nunca acaba...
Tenho em meu bolso
O papel que ontem
Você escreveu meu nome
e desenhou um céu...
E mais nada importa...
Fica um mundo inteiro de Histórias
para cuidar bem depois...
Ah!você pode ir...
Eu sei...
Eu não sei esperar...
Todos partimos...
Todos voltamos...

Mas nunca me mande
uma carta de adeus...
se um dia for...
que seja como a maré alta
que espantou os amantes...
mas ali deixou
conchinhas coloridas...

Lupi

A Canção da Saudade


Que tarde imensa e fria!
Lá fora o vento rodopia...
Dança de folhas... Folhas, sonhos vãos,
que passam, nesta dança transitória,
deixando em nós, no fundo da memória,
o olhar de uns olhos e a carícia de umas mãos.
Ante a moldura de um retrato antigo,
põe-se a gente a evocar coisas emocionais.
Tolda-se o olhar, o lábio treme, a alma se aperta,
tudo deserto... a vide em torno tão deserta
que vontade nos vem de sofrer mais!
Depois, há sempre um cofre e desse cofre
tiramos velhas cartas, devagar...
É a volúpia inervante de quem sofre:
ler velhas cartas e depois chorar.
Que tarde imensa e fria!
Nunca mais te verei... Nunca mais me verás...
Lá fora o vento rodopia...
Que desejo me vem de sofrer mais!

(Olegário Mariano)

Quem Sou Eu?


Eu sou a curva fechada
E a voz embargada
Sou o medo da derrota
E o final da anedota
Eu sou o vento frio
Que te provoca arrepio
Sou a água fervente
na sua dor de dente
Sou a pancada que acerta
Na ferida aberta
Sou o rosnar do cão
E a briga por um pão
Eu sou o relógio parado
E um cigarro apagado
Eu sou um purgante
No frasco de adoçante
Eu sou a vergonha de viver
E a vontade de beber
Eu sou a água imunda
Onde o barco afunda
Sou a pergunta repetida
E a verdade escondida
Eu sou a bula do remédio
E um dia de tédio
Eu sou aquilo que não presta
E tudo que te resta.


(TKM - Fogovivo)