
O gosto da Beleza em meu lábio descansa:
breve pólen que um vento próximo procura,
bravo mar de vitórias - ah, mas istmos de sal!
Eu - fantasma - que deixo os litorais humanos,
sinto o mundo chorar como em língua estrangeira:
eu sei de outra esperança: eu conheço outra dor.
Apenas alta noite algum radioso espelho
em sua lâmina reflete o que estou sendo.
E em meu assombro nem conheço o próprio olhar.
Alta é a alucinação da provada Beleza.
Pura e ardente, esta angústia. E perfeita, a agonia.
Eu, que a contemplo, vejo um fim que não tem fim.
Dunas da noite que se amontoam.
Cecilia Meireles