terça-feira, 6 de outubro de 2009

"VAZIO REDONDO"


Há um vazio redondo
que fere o silêncio e os gritos
como escarpas estilhaçadas ...

Há um abismo redondo
na poeira dos meus passos
um precipício de mêdo
tecido na rotina dos dias...

Há um esgar de ausência
em cada noite encostado
como se esperasse
um pássaro por amanhecer...

Um cansaço de acuçenas
amarelecidas pelo tempo
sangrando as esperas na arena,

as Primaveras, subitamente feridas,
se extinguem num vazio redondo
como um grito contra o muro.


luizacaetano
(do livro Lisboa In Versos)

A Poesia nasce em mim....


A poesia nasce em mim
Assim como nasce a fantasia
Assim como nasce a flor
No jardim de quem planta
Assim como nasce o dia
Da vida de quem ama

Em meio a fadas e carinho
Amizades e elogios
Ela nasce feliz sorrindo
No papel que ainda em branco a espera
Assim como o nasce dos sonhos
Na vida de quem ama

O eu ser pessoa fada
inicia a escrever
A inventar versos meus
Na pensamento ainda lento
Assim como fazem os poetas
Na vida de quem compõe


Ana Beatriz Nascimento

As Borboletas Brancas


As borboletas brancas
de vida tão breve
fogem duas a duas
entre o azul e o verde.
Tão paralelamente
e tão iguais de longe
(uma é a outra, uma é a outra...).
Ambas da mesma forma
e do mesmo tamanho,
ambas com o mesmo ritmo.
(uma é a outra, uma é a outra...).
o ar separa-as nos ares,
como um reflexo na água,
uma é a outra, uma é a outra.
Flores de duas pétalas,
logo de quatro, de oito...
(uma e outra, uma e outra...).

Cada uma agora é dupla,
todas duas são uma...
chegam, juntam-se,afastam-se,
vêm, afastam-se, fogem...
... entre o azul e o verde
todas brancas desfolham-se...
( uma é a outra, uma é a outra...)
e passam de uma a outra,
e depois de uma e de outra
apenas são nenhuma.


Cecília Meireles