domingo, 13 de setembro de 2009

Canção da mirada secreta


Foram-se os amores que tive
ou me tiveram. Partiram
num cortejo silencioso e iluminado.
A solidão me ensina
a não acreditar na morte
nem demais na vida: cultivo
segredos num jardim
onde estamos eu, os sonhos idos,
os velhos amores e os seus recados,
e os olhos deles que ainda brilham
como pedras de cor entre as raízes.

Lya Luft

Eu sou...


Eu sou...
Tudo ou nada...
Sou forte ou frágil
Dependo do momento
Sou como cristal furta-cor
Que se sujeita a projeção...
da luz no vento
Amando faço que preciso for
Não me julgue...
Sou simplesmente mulher
Sinônimo do amor!


Rô Lopes

Se você se vai...


Minha alma na tua alma,
meu coração no seu coração
Amor envolvente...

Nuvem que veio com o vento,
Passou por um instante
Roçou por um momento...

Afagou meu pensamento
Com caricias angelicais,
Doçura que só você sabe ter,
Amor que eu amo
E não quero perder...

Dia e noite são iguais
Se você não está
Brilha o sol se você chega
Fica noite se você se vai...

Maria Bonfá

SILÊNCIO AMOROSO - 2


Preciso do teu silêncio
cúmplice
sobre minhas falhas.
Não fale.
Um sopro, a menor vogal
pode me desamparar.
E se eu abrir a boca
minha alma vai rachar.
O silêncio, aprendo,
pode construir. É um modo
denso/tenso
— de coexistir.
Calar, às vezes,
é fina forma de amar.  


Affonso Romano de Sant'Anna

Sempre estremeço ante a poesia.
A amendoeira,os pássaros,o bosquezinho onde você está,
as flores que você não vê,a janela aberta sobre a qual eu me debruço
e sonho que você está encostado em meu ombro,
às vezes em que sua fotografia parece triste.


Mas quero escrever,sobretudo eu quero escrever
uma espécie de longa elegia para você.
Talvez não em poesia. Nem em prosa, talvez.
Quase com certeza num tipo de prosa especial.

E,por fim,quero manter um caderno de notas para ser publicado algum dia.
Só isso. Nem novelas, nem histórias de problemas,
nada que não seja simples e transparente.

Katherine Mansfield