segunda-feira, 17 de agosto de 2009

São de Areia


Na balada de meu coração surfa um sorriso
ainda molhado pelas águas de março daquele verão...
Arrepia meu corpo ainda salgado o gosto do riso
esparramado nas areias mornas de então...
Não são só lembranças, são tatuagens,
marcas que ficaram coladas n’alma como grãos d’areia...
São elos que não se rompem, são fontes
que jorram de mim para o mar querendo te amar...
Podes constar como saudade, infinitas que são,
me apertam os olhos e me põem a pensar...
Chorar nunca, pois são resto de risos que ainda ecoam
na concha vazia de meu coração!

Santaroza

Se eu fosse apenas...


Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!


Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!


Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana,amarga demora!
–de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...

Cecília Meireles

CAIXINHA MÁGICA


Fabrico uma caixa mágica
para guardar o que não cabe
em nenhum lugar:
a minha sombra
em dias de muito sol,
o amarelo que sobra
do girassol,
um suspiro de beija-flor,
invisíveis lágrimas de amor.
Fabrico a caixa com vento,
palavras e desequilíbrio,
e para fechá-la
com tudo o que leva dentro,
basta uma gota de tempo.

O que é que você quer
esconder na minha caixa?


Roseana Murray