sexta-feira, 28 de agosto de 2009

POEMETO


sobre o rio da vida
essa ponte de amor
tu na margem de lá
eu à margem de cá
segurando esta flor
desfolhada na mão
do possível morrer
pelo ser ou não ser
como rio entre nós
uma dor de paixão

Afonso Estebanez

Geometria dos ventos


Eis que temos aqui a Poesia,
a grande Poesia.
Que não oferece signos
nem linguagem específica, não respeita
sequer os limites do idioma. Ela flui, como um rio.
como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem se sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada -
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se arranca da terra
já dentro da geometria impecável
da sua lapidação.
Onde se conta uma história,
onde se vive um delírio; onde a condição humana exacerba,
até à fronteira da loucura,
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao
mesmo tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia.

Rachel de Queiroz

Eis-me aqui!


Eis-me aqui
na luz dos olhares que se cruzam,
entre a neblina que se desfaz
em meio a tantos ou uma, das palavras,
no silêncio tão breve que se refaz

Volto no limiar exato do inacabado,
deflagrando o desamparo da memória
na construção palpável das palavras
habitando constelações
antes nunca navegadas

Não sou mais que isto:
sonhos inventados,
finalidade e drama sem enredo,
herança sem segredo

Conceição Bentes